Blog da Cia. Zero Zero de Teatro

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Personagem intelectual atrai o público?


Hugo Neto – Miguel, “L” é um personagem essencialmente cerebral. Seus momentos mais significativos são marcados pela atividade mental e não pela ação física, o que é diferente daquilo que os demais atores fazem. No jogo de gato-e-rato com Raito, “L” luta mentalmente para solucionar a charada do Shinigami. Numa época em que a juventude exalta tanto a ação, a atitude, o vigor físico, o corpo saudável por quê um personagem puramente intelectual atrai tanto o público?

Miguel Atênsia – Se eu for pensar pelo ponto de vista do ator e o caminho que percorro para fazer este personagem é possível que eu te surpreenda dizendo que não é tão diferente dos outros atores. A questão é justamente essa: como realizar uma atividade mental em uma linguagem essencialmente de ação como é o teatro? A pista que encontrei foi justamente pela ação física, o que se passa na cabeça do personagem não voa magicamente até o público, então a maneira como o personagem utiliza os objetos, o tempo-ritmo que ele emprega em suas ações vão esclarecendo, aos olhos de quem está assistindo, que este personagem está atento e planejando o próximo passo. Acho que o “L” atrai, pois ele instiga o lado intelectual do público, que olha para um personagem esquisito e não consegue entende-lo rapidamente, e o esforço para desvendá-lo é um jogo com a curiosidade natural das pessoas, que sentem prazer ao brincarem de detetive também.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Mais um pouco!

E continuamos com a entrevista in process...

Hugo Neto – Bruno, o espetáculo apresenta dois mundos, duas dimensões que, em tese, não poderiam se encontrar; o mundo dos vivos e o mundo da Morte. É justamente o seu personagem que faz a ruptura com o plano da realidade. Sua linha de interpretação se distingue das demais por um caráter não-naturalista e você sugere algo terrível. O Shinigami sorri, é engraçado, mas esse riso é sinistro, dá medo. Ainda assim, ele seduz a platéia. Como você explica essa atração mórbida tão forte do público jovem com um personagem que representa a destruição absoluta?

Bruno Garcia – Por algum motivo que desconheço muitos jovens são atraídos pela morbidez e isso não é novidade. Poderíamos até traçar uma linha de obras de arte com temas góticos, passando por Neil Gaiman, Edgar Alan Poe, e diversos outros pintores góticos. Muitos adolescentes são atraídos pelo gótico, e acredito que isso revele não só a revolta comum dessa fase, mas também a negação da organização do mundo como é hoje.

Agora é sua vez:
Você é jovem? Gosta de morbidez? É revoltado? Por quê?
Ou você não se identifica com nada disso? Acha que é tudo besteira?
Fale, comente e deixe sua opinião.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Tempos atrás coloquei a entrevista de Hugo Neto na integra aqui no nosso blog, como ficou longo demais, percebi que as pessoas não estavam lendo tudo. Aprendi uma lição sobre escrever blog neste dia, post muito longo não rola! Agora percebo outro... de tempos em tempos é bom recapitular.
Bom continuando com a saga da entrevista, Vinícius agora vai falar sobre seu personagem Raito.
Espero que vocês gostem.

Hugo Neto – Vinícius, a peça trabalha bastante com choques de ritmos e com a superposição de planos. Raito é o personagem que mais transita ente a ação absoluta e a introspecção absoluta. Quais foram as dificuldades para compor uma personagem que salta tão abruptamente de um estado para outro?

Vinícius Carvalho – Para mim, a dificuldade maior foi construir o que você chama de introspecção absoluta. No mangá ou no animê, Raito tem muitos momentos de reflexão que são expressados através de quadradinhos escritos, no caso do Mangá, ou áudio, no caso do animê, e minha dificuldade foi justamente entender como transpor essas reflexões para a cena, transformando-as em ação física, mantendo a idéia de reflexão, porém sem parecer explicativo ou baixar o volume de voz ao ponto de o público não ouvir o que foi dito. A solução que encontrei foi, ao invés de falar, fazer. Se você reparou, o Raito interpretado por mim, é muito mais ativo fisicamente em comparação ao do Mangá. Isso não significa que seja melhor ou pior, mas sim que são linguagens distintas, com necessidades diferentes e o que funciona muito bem em uma linguagem pode não ser tão eficaz na outra. Outra maneira que encontrei foi tomar o Shinigami Ryuk como meu confidente. Algumas reflexões, ao invés de dizê-las pra mim, eu dizia para o Ryuk, ou, numa terceira saída, foi dizer minhas reflexões para o próprio público, como se ele fosse meu confidente. Assim, creio que a idéia de reflexão era passada e, ao mesmo tempo, as relações entre Raito e o Shinigami e Raito e o público ficavam mais próximas.

No próximo capítulo Bruno vai falar sobre o Shinigami e a atração dos jovens pelo " morbido"!
Não percam!